quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

REPRESENTAÇÕES DE GESTORES, TÉCNICOS E PROFESSORES SOBRE A COMPETÊNCIA NO TRABALHO PEDAGÓGICO.
 MANAGERS REPRESENTATIONS, TECHNICAL AND TEACHERS ON RACING AT WORK EDUCATIONAL .

José Ribamar Tôrres Rodrigues
Doutor em Educação pela USP
Mestre em Educação pela PUC/SP
Estágio em Formação de Professores no IUFM de DOUAI/ França
Estágio em formação de Professores em CUBA
Ex-Membro do Conselho Estadual de Educação/PI
Coordenador do Fórum Estadual de Educação
Membro do Banco de Avaliadores do MEC/INEP.

José Ribamar Rodrigues Tôrres
PhD in Education from USP
Master in Education from PUC / SP
Internship in Teacher Training in the IUFM of DOUAI / France
Stage for Teacher training in Cuba
Former member of the State Board of Education / PI
Coordinator of the State Education Forum
Member of Appraisers Bank MEC / INEP.
E-Mail: jrib.torres@gmailcom
Tel (86) 99415-9958


Este texto discute as representações de gestores, técnicos e professores sobre a competência no trabalho pedagógico tendo como suporte teórico as categorias de dramaturgia IN (ErvingGoffman (1985). Saberes IN (Maurice Tardif  (1996) e Cultura IN Clifford Geertz (1973).     O texto expressa a realidade da escola rural piauiense no período de da década de 90. Pelo que se pôde observar, as representações de competência se definem não só com base em aspectos burocráticos, legais e de resultados de aprendizagem alcançados, mas principalmente pelo valor que lhes são atribuídos pela comunidade em relação ao prestígio que tem no contexto das relações familiares e de poder. Estas representações constituem uma cultura disseminada, historicamente, no meio social e que repercutem em todas as relações locais, inclusive na escola como parte desta cultura oculta no conjunto da cultura da identidade nacional ou Regional.


This paper discusses the representations of managers, technicians and teachers about the competence in pedagogic work with theoretical support the categories of drama IN ( ErvingGoffman (1985 ) . Knowledge IN ( Maurice Tardif (1996) and Culture IN Clifford Geertz (1973) . The text expresses the reality of Piaui rural school in the period of the 90s. At that can be observed , the jurisdiction representations are defined not only based on bureaucratic aspects , legal and achieved learning outcomes , but mainly by the value attributed to them by the community in relation to the prestige it has in the context of family relationships and power. These representations constitute a widespread culture, historically , the social environment and have repercussions on all local relations , including the school as part of this hidden culture throughout the culture of national or regional identity.


Cet article traite des représentations des gestionnaires, des techniciens et des enseignants sur la compétence dans le travail pédagogique avec le soutien théorique les catégories de drame  Erving Goffman ( 1985) . Connaissances dans ( Maurice Tardif (1996 ) et de la Culture à Clifford Geertz (1973 ) . Le texte exprime la réalité de l'école rurale Piaui dans la période des années 90 .Au qui peuvent être observés , les représentations de compétence sont définis non seulement basée sur les aspects bureaucratiques , juridiques et acquis d'apprentissage obtenus , mais surtout par la valeur qui leur est attribuée par la communauté par rapport au prestige qu'il a dans le contexte des relations familiales et pouvoir. Ces représentations constituent une culture répandue , historiquement , l'environnement social et avoir des répercussions sur toutes les relations locales, y compris l'école dans le cadre de cette culture caché tout au long de la culture de l'identité nationale ou régionale .


Este documento analiza las representaciones de gerentes, técnicos y maestros sobre la competencia en el trabajo pedagógico con el apoyo teórico de las categorías de drama en ( ErvingGoffman (1985 ) . El conocimiento IN ( MauriceTardif ( 1996 ) y la cultura en CliffordGeertz (1973).  El texto expresa la realidad de la escuela rural Piauí en el período de los años 90. En que se puede observar , las representaciones de jurisdicción se definen no sólo en base a aspectos burocráticos , legales y resultados de aprendizaje alcanzados , pero sobre todo por el valor que se les atribuye por la comunidad en relación con el prestigio que tiene en el contexto de las relaciones familiares y poder. Estas representaciones constituyen una cultura generalizada , históricamente , el entorno social y tener repercusiones en todas las relaciones locales, incluyendo la escuela como parte de esta cultura oculta toda la cultura de la identidad nacional o regional.
Dieser Beitrag diskutiert die Darstellungen von Manager, Techniker und Lehrer über die Kompetenz in der pädagogischen Arbeit mit theoretischen Unterstützung die Kategorien von Drama in ( Erving Goffman (1985). Wissen ( Maurice Tardif (1996) und Kultur im Clifford Geertz (1973). Der Text drückt in der Zeit der 90er Jahre die Realität der Piaui ländlichen Schule . Bei dass beobachtet werden kann , die Gerichtsbarkeit gegeben werden, nicht nur auf der Grundlage bürokratischer Aspekte , rechtliche und erzielte Lernergebnisse definiert , vor allem aber durch den Wert , um sie von der Gemeinschaft in Bezug auf die Prestige es im Rahmen der Familienbeziehungen und hat zugeschrieben Macht. Diese Darstellungen bilden eine weit verbreitete Kultur , historisch gesehen, das soziale Umfeld und die Rückwirkungen auf alle lokalen Beziehungen, einschließlich der Schule als Teil dieser verborgenen Kultur in der Kultur der nationalen oder regionalen Identität.

Эта статья обсуждает представления менеджеров, технических специалистов и преподавателей о компетенции в педагогической работе с теоретической поддержкой категории драма в ( Ирвинга Гофмана ( 1985 ) . В знании ( Maurice Tardif (1996) и культуры в Клиффорд Гирца (1973) Текст выражает реальность Пиауи сельской школе в период 90-х годов . Вчто можно наблюдать , представления юрисдикции определяются не только на основе бюрократических аспектов , правовой и достигнутых результатов обучения , но , главным образом, по значению приписывается им сообщества в отношении престижа, который она имеет в контексте семейных отношений и сила. Эти представления составляют широкую культуру , исторически, социальную среду и иметь последствия для всех местных отношений , в том числе школы в рамках этой скрытой культуры по всей культуры национального или регионального идентичности .
Etastat'yaobsuzhdayetpredstavleniyamenedzherov,tekhnicheskikhspetsialistoviprepodavateleyokompetentsiivpedagogicheskoyrabotesteoreticheskoypodderzhkoykategoriidramav ( IrvingaGofmana ( 1985 ) . Vznanii ( MauriceTardif (1996) ikul'turyvKliffordGirtsa (1973). Tekst vyrazhayet real'nost' Piaui sel'skoy shkole v period 90-kh godov Vchtomozhnonablyudat' ,predstavleniyayurisdiktsiiopredelyayutsyanetol'konaosnovebyurokraticheskikhaspektov , pravovoyidostignutykhrezul'tatovobucheniya, no glavnymobrazom, poznacheniyupripisyvayetsyaimsoobshchestvavotnosheniiprestizha,kotoryyonaimeyetvkontekstesemeynykhotnosheniyisila. Etipredstavleniyasostavlyayutshirokuyukul'turu , istoricheski, sotsial'nuyusreduiimet' posledstviyadlyavsekhmestnykhotnosheniy , vtomchisleshkolyvramkakhetoyskrytoykul'turypovseykul'turynatsional'nogoiliregional'nogoidentichnosti .



O acompanhamento, controle e avaliação do trabalho burocrático-pedagógico do professor leigo é uma atribuição das equipes técnicas (coordenadores e supervisores) da Secretaria Municipal de Educação. Embora haja planos de acompanhamentodo trabalho docente na escola, tal atividade raramente é executada em razão, principalmente, da falta ou carência de transporte, precárias condições de acesso nas localidades onde se situam as escolas.  As informações escolares são obtidas, via de regra, através do próprio professor quando este se desloca para a cidade para receber o salário, ou nos encontros mensais para o planejamento, ou indiretamente, através do diário de classe, dos cadernos dos alunos, de informações das famílias dos alunos, pessoas da comunidade ou do desempenho dos professores nos treinamentos.

Para descrever analiticamente este processo, foram também entrevistadas secretárias, coordenadoras e supervisoras municipais de educação. A professora Odélia, e a Coordenadora Geral Pedagógica, professora Lourdes. Segundo elas, a realização do planejamento apresenta dificuldades em função do nível dos professores rurais e o desinteresse deles por esta atividade. Elas acreditam que isso ocorre tanto pelo baixo nível de escolaridade dos professores rurais, o trabalho em classes multisseriadas que os obriga a fazer vários planos, além do deslocamento da zona rural para a zona urbana para participar do planejamento na sede do município. Dizem elas:

"O professor sai daqui com o planejamento já todo montado, de acordo com a realidade de sua sala, isso na área urbana. Na área rural devido o professor ser leigo, trabalhar com multisseriada, ele recebe os objetivos e os conteúdos já rodados e discutimos as atividades. Pode ser do livro, mas também não ser... se bem que no interior ele se bitola mais na questão do livro, né?" (Profa. Odélia, Secretária de Educação).

                    "Seria bom se tivesse condição de mudar um pouco... mas é difícil trabalhar com elas. Se fosse por elas, chegariam aqui só pra pegar o planejamento. Não queria nem que você explicasse e já queria ir embora... elas não têm aquele interesse de pegar aquelas informações para repassar direitinho...” (Profa. Lourdes, Coordenadora Pedagógica).

Com relação às dificuldades dos professores, a Secretária aponta um certo preconceito deles entre professores formados (Curso Pedagógico) da zona urbana e professores leigos rurais. Por isso, o planejamento é realizado em dias diferentes. Já para a coordenadora, uma grande dificuldade é o deslocamento deles para a cidade porque não há condições de alojamento e alimentação para passar o dia com eles.

“... porque muitas vezes eles têm um certo preconceito que eu noto. E... até deixei de falar isso ... professor formado ... professor não formado ... observei isso num treinamento onde a gente teve um momento de botar tudo junto". (Profa. Odélia,Secretária Municipal).

"...tem muitos que moram muito longe...é dificuldade pra vir pra cá ...não conseguimos ficar com eles o dia todo". (Profa. Lourdes, coordenadorapedagógica, Altos).

Para a secretária municipal de educação, professora Nazaré e a coordenadora pedagógica, professora Teresinha,houve muita mudança no processo de preparação do trabalho docente através da  elaboração do planejamento mensal.

                     "Antigamente, o pessoal fazia só copiar. Tamos fazendo um planejamento ... muitos deles acham difícil.  Não devemos ... pegar ... fazer um planejamento pra outra pessoa ir dar aulas, né? Nós não estamos mais planejando para o professor levar prontinho ... rodado na máquina, sem saber o que estava aplicando, né? ...Não sabiam nem como era se estava passando mesmo o aluno ... queria saber que vinha, recebia o dinheiro naquele dia. Então, a gente já marcou o planejamento, não em dia de pagamento. O professor sabe o que vem fazer. Tem deles, que eu lhe digo com toda  a sinceridade, num sabe nem assim... é ... é ... fazer planejamento... eu acho assim... que uma das dificuldades do planejamento é justamente porque os professores não tinham conhecimento do planejamento mesmo em si, pra que servia o planejamento". ". (Prof. Nazaré, secretária municipal).                   

Para muitos professores, o planejamento é uma atividadeestranha, desconectada de sua prática e mais uma exigência administrativa. Para a coordenadora pedagógica a dificuldade é“... na elaboração dos objetivos. Com os livros novos que receberam esse trabalho já facilitou porque já vem tudo desenvolvido ...os objetivos relacionados com os conteúdos a ser explorado dentro do mês”. Para elas, quando o professor tem dificuldades, alguns procuram a secretaria e outros têm vergonha de se expor e ficar rotulado de não saber, mas elas dão assistência naquelas localidades onde já sabem que o professor tem mais dificuldade e fazem algumas atividades para apoiá-los. Diz a secretária, “a gente faz... geralmente, uma pesquisa, né?” E a coordenadoracompleta que “temos sempre nossa agenda preparada antes da reunião e a gente vai elaborando os tópicos pra, no planejamento, tanto na parte administrativa quanto pedagógica...”.

O acompanhamento do trabalho do professor é realizado através de visitas, quando é possível, e mais naquelas escolas de menos rendimento. Diz a secretária:“... teve escola, no ano passado ... foi obrigado eu chegar lá, parece que seis vezes na escola. Os professores não trabalhavam o horário de expediente completo”.
A professora Ana, secretária municipal de educação diz que a estrutura organizacional da secretaria ainda não foi organizada, portanto, não foi ocupado o cargo de coordenador pedagógico. Na opinião da secretária, o planejamento pedagógico de ensino ainda não tem concepção definida.  Além disso, há problemas na execução e acompanhamento pedagógico.

                     "Professor, o planejamento de ensino nosso, aqui, é um planejamento totalmente assim ... ainda sem uma meta, entendeu? Principalmente na zona rural, porque eles não acompanham porque eles dão multisseriação. Planejam 1a série ... português, matemática, estudos sociais e ciências ... 4 disciplinas de 1a ... 4 de 2a , 4 de 3a e 4 de 4a série... são 16 planejamentos de currículos diferentes, né? ... É difícil para gente trabalhar".

Para ela, a dificuldade que os professores têm de elaborar o planejamento é proveniente da falta de conhecimento didático e metodológico:
                     "A dificuldade é não conhecer nem didática, nem metodologia, nem... nada... nada... método nenhum. Quanto ao conteúdo... ao objetivo, tudo bem... se for o conteúdo, eles sabem o nome do conteúdo. Agora, desmembrar o objetivo, a atividade, a avaliação... é o maior problema do mundo. Até professor que tem o Curso Pedagógico... não tem assim uma ideia como encadear.".

A secretária municipal de educação, professora Gorete e a coordenadora pedagógica, a professora Fátimaresidem na capital. A proximidade e a facilidade de transporte da prefeitura, que levam professores da capital para darem aulas à noite,no ginásio, permitem  o deslocamento delas. A coordenadora pedagógica trabalha todo diaà noite e duas vezes por semana durante o dia. A secretária de educação alterna dias no município e dias na capital. Isso é comum nos municípios novos que, por falta de recursos humanos qualificados, importam profissionais de outros municípios, geralmente, dos municípios de onde foram desmembrados para assumirem os cargos administrativos. A atividade do planejamento é realizada no período noturno, de 19:00 às 22:00 horas, aproveitando o transporte dos alunos do ginásio do interior para a cidade. Na opinião da secretaria e da coordenadora, o planejamento realizado com os professores está entre bom e razoável, tendo em vista as mudanças que foram introduzidas na concepção e elaboração do mesmo.

                     “Quando nós entramos no município, o professor estava viciado porque eles diziam que chegavam no município [município-mãe de onde foi desmembrado este] e já encontrava tudo pronto”... só iam copiando, né? Aí, nós tentamos fazer que eles... a gente sempre dá uma palestra antes, leva alguma novidade para eles e dentro daquilo ali, fazer com que ele mesmo elabore seu planejamento dentro de sua realidade. E no início a gente sentiu um pouco de resistência e ainda estamos encontrando resistência... Às vezes a gente marca um planejamento e quando chega lá, até pela pressa, tem um já copiando do planejamento do outro. A gente vai aceitando sem criar muito transtorno, tentando acabar com isso aí, fazendo eles entenderem que o planejamento por eles mesmos fica melhor... dentro da realidade dele (Profa. Gorete, Secretaria de Educação).

A secretária municipal de educação, professora Dinalva afirma que o planejamento dos professores é de muita participação e empenho por parte deles. Ela diz:

"[...] tem professor que é mais esperto, tem mais costume de dar aulas... ele elabora o planejamento em sua casa e muitos deles já elabora vários meses e passa para a supervisora (coordenadora pedagógica). Ela vai avaliar e sempre é até melhor porque ganha mais tempo".

Aqui, se pode observar a concepção do planejamento como uma atividade burocrática para satisfazer uma exigência formal e não um mecanismo de auto formação do docente e de direcionamento de seu trabalho. A coordenadora geral de educação, professora Alzenir está trabalhando diretamente com o professor. Em sua opinião, o fato mais importante do planejamento dos professores é “[...] esse contato entre eles. Muitas vezes... eles têm dificuldades e outro já diz como trabalhou... estão, aqueles mais experientes, que sabe como trabalhar, é que passa a experiência pra mim mesmo”.

A professora Sôniacoordenadora pedagógica, na prática, acumula, também, a função de Secretária de Educação. Embora uma outra professora ocupe o cargo, o poder de decisão, por questões políticas, é exercido pela coordenadora. Na opinião dela o processo de elaboração do planejamento já melhorou muito:

                   "Quando cheguei aqui, as professoras da zona rural, até as professoras da zona urbana, elas não tinham planejamento.Elas recebiam o planejamento pronto. O que fiz...vamos planejar todos juntos...e a partir deste plano, eu descobri que elas nunca tinham feito um planejamento. Davam aulas, assim, sem uma orientação".

Para ela, as dificuldades dos professores na elaboração do planejamento é por serem leigos e não serem orientados. Não há qualquer plano da Secretaria para apoiar os professores em suas dificuldades. Segundo ela,

"[..] é muito difícil... porque a zona rural, além de ser distante, eles não procuram... ao contrário, eles se escondem. No caso de um povoado, aqui, é uma senhora que já idosa, ela não admite que a gente entre nas atividades dela".

Este é um comportamento comum a alguns professores rurais. Nomeados por critérios políticos, por serem ligados a lideranças ou por terem vínculos familiares com políticos locais, desafiam a autoridade das Secretarias de Educação. O acompanhamento da execução do planejamento é realizado em raras visitas ou no planejamento. “Faço visitas... e no planejamento... eu fiz uma vez até agora... os professores ficam em frente aos colegas e dizem qual é o assunto que está dando... como é que fez...as dificuldades de alguma criança”.

A coordenadora aponta aspectos para melhoraras atividades pedagógica, dentre outras, o empenho de todos os professores para enriquecer suas atividades, disponibilidade de material didático, melhorar as condições físicas das escolas e o calor e reduzir os problemas políticos. “A maior dificuldade que encontrei aqui foi fazer os professores irem para a sala de aula porque existe a situação partidária”.

Questões políticas também anulamo poder de decisão da Secretaria Municipal de Educação. Muitos professores não trabalham porque são aliados de grupos que estão no poder. Isso reflete a força do assistencialismo e do clientelismo como valores significativos na cultura política local. Disso, muitas vezes, depende a eleição de uma liderança e sua popularidade. Tal processo serve a interesses de grupos, mas destrói a eficiência do trabalho escolar, especialmente na zona rural. A secretária municipal de educação do município de Lagoa do Piauí professora Rosângela é da opinião de que se deve dar espaço para a participação do professor no planejamento e ouvi-lo:

"[...] porque às vezes, o professor com toda a experiência que ele tem de sala de aula, ele vê a falha e já tem, mais ou menos, a sugestão de como superar esta falha, mas às vezes tem medo... acha que aquela opinião dele não está certa. Se a gente dá a receita pronta, acham difícil e vindo deles a ideia, as dificuldades são superadas com mais facilidade".

Para ela, a maior dificuldade dos professores é o nível de conhecimentos:

                    "Os nossos professores, mesmo os que têm pedagogia [pedagógico] eles são leigos em relação à ortografia, a leitura, informações... então eu peço pra eles trabalhar mais esta parte... essa parte de português... da gramática... vê o que eles têm e aproveitar toda a bagagem que o professor tem, porque se a gente sugere que seja aproveitada a bagagem do aluno, então nós temos de aproveitar toda aquela bagagem do professor. Eles têm dificuldade de elaborar objetivos... avaliação... acham um bicho de sete cabeças".

Professor Joacir, secretário municipal de educação,admite que o processo de elaboração do planejamento é precário em função do baixo nível de formação dos professores. Ele observa a impossibilidade de se exigir um plano diário de aulae informa que “eles seguem o croqui que têm já há muito tempo...”.

Professor Jacinto, secretário municipal de educação e a coordenadora, professora Calíope, acreditam que o planejamento que os professores fazem está mudando porque eles estão tendo assistência. Diz ele: “além de copiarem, nós aplicamos, mensalmente, após o planejamento, um teste de conhecimentos... o teste é pra atualizar os professores com base nos conteúdos dos livros que eles dão aulas”. Para a coordenadora, “anteriormente o planejamento era só copiar... muitas vezes de planos passados... e isso não tinha nada a ver com o que acontecia na sala de aula”. Tanto o secretário quanto a coordenadora acham que as dificuldades do professor se explicam pela falta de conhecimentos teórico-metodológicos e por não saber elaborar o próprioplanejamento. Para ele:

“... com esse provão o que se está descobrindo é a falta de conhecimento, principalmente, na área de matemática. Por incrível que pareça, tem professor que não sabe tirar uma conta de dividir por uma letra. Caligrafia, também, é outro problema... ele não sabe diferenciar um nome próprio de um nome comum”.

Para a coordenadora:

"[...] se fosse fazer objetivos, conteúdos... tudo isso para eles é impossível... o que fazem ainda hoje é cópia... hoje, damos pronto, só fica pra eles fazer as atividades. Essa montagem é única pros professores de cada série... e aí, a gente tem como fiscalizar mesmo".

A Secretaria desenvolve algumas atividades para apoiar os professores nas dificuldades, dentre as quais, enfatizam-se os treinamentos e as micro-aulas realizadasdurante os encontros mensais de planejamento. A coordenadora explica que

                     "na micro aula [...] a gente pega o conteúdo onde surgiram maiores dificuldades e aí, uma das supervisoras monta uma aula e vai dar... prepara material que eles também podem preparar e, às vezes, até a gente passa esse material para eles, de apoio, para que eles aprendam que usando algum material, facilita a aula”.

A coordenadorapedagógica, professora Maria José, afirma que a atividade do planejamento pedagógico de ensino ainda precisa melhorar muito. Há modificações de escola para escola. Elas têm um certo grau de autonomia. Em cada escola há um coordenador pedagógico que eles o chamam de pedagogo, responsável pelo acompanhamento do trabalho docente. As dificuldades do professor residem na elaboração de objetivos e sua coerência com as atividades e avaliação. Para a coordenadora entrevistada,

"[...] não há preocupação com a avaliação. A gente sente que a avaliação fica um pouco isolada. Não tem esse intercâmbio entre objetivo, atividade e avaliação... é um momento estanque, mas tem muitas escolas que seguem a orientação da secretaria, de avaliação no processo" (Profa. Maria José, coordenadora pedagógica).

A secretária municipal de educação, professora Fátima e a coordenadora pedagógicaprofessora Socorro, apresentam dificuldades na elaboração do planejamento. Diz uma delas:

                     "A gente leva o planejamento pronto, mas sabemos que isso é errado. Nós começamos assim... a gente passava o dia todo e não saía nada... a gente já leva pronto como você viu e lá a gente só vai discutir as atividades como aplicar na sala de aula".

Com relação às dificuldades, a secretária aponta como a mais significativa, a classe multisseriada. Mas para a coordenadora, é a aplicação do plano de aula. Quando o professor tem dificuldades, geralmente procura a coordenação, uma vez que a secretaria não elaborou aindaum plano de trabalho para apoiar o professor. Ministram-se treinamentos, mas sem articulação com uma proposta global, voltada para as deficiências do trabalho docente, registradas a partir de um acompanhamento. São treinamentos com abordagem geral de conteúdos e métodos de ensino:                  

         "A gente faz treinamento sobre construtivismo e você podeolhar numa sala de aula se eles não tiverem naquele mesmo método do passado...de antigamente...da tabuada...ditado". Profa. Socorro, coordenadora).

Para a secretária, há, também, dificuldade administrativa.

        "Uma das vantagens que houve foi o concurso público. Isso foi uma beleza no sentido da política porque entrava um de licença... era vereador querendo indicar o substituto. Às vezes deixava de botar uma pessoa formada para botar uma leiga” (Profa. Fátima, Secretária de Educação).    

Nesses relatos de técnicos das secretarias municipais de educação que se acabam de registrar, observam-se as várias representações de competência que eles têm dos professores na execução do trabalho pedagógico de sala de aula.

A representação de professor competente aparece, nos relatos acima, como aquele que domina os conteúdos curriculares a serem ensinados na escola; aquele que domina métodos e técnicas de ensino, inclusive sabe confeccionar materiais pedagógicos; aquele que sabe repetir na sala de aula os modelos ensinados nos planejamentos e treinamentos; que sabem usar o livro didático; que se sai bem nos testes aplicados nos planejamentos ou nas micro aulas que eles demonstram para os colegas sobre um determinado assunto das disciplinas curriculares, sorteados pelos coordenadores para cada planejamento (caso do município de Monsenhor Gil); aquele que consegue um bom rendimento dos alunos nas avaliações mensais e, por conseguinte um alto índice de aprovação. Dentre outras representações de competência docente, aparecem como competentes aqueles que têm experiência de sala de aula ou que são aprovados em concurso público. Os relatos também apontam como principal causa da pouca qualidade do trabalho pedagógico do professor leigo a não-habilitação dos mesmos o que demonstra a crença de que competência seja igual à titulação.

Tais representações de competência, porém, dizem respeito apenas ao ponto de vista formal, legal. Na prática, todas estas representações cedem lugar àquelas legitimadas pelo cotidiano das relações sociais locais. Nestas, os indivíduos gozam de um status de “competência” perante os demais decorrentes das ligações familiares com grupos dominantes do lugarejo, isto é, a influência das famílias no poder produtivo e político da região. Desse modo, a representação de competência constitui-se como espaço de poder. É possível que este processo tenha sido transferido para as relações pedagógicas, tendo em vista que professores oriundos destes espaços de poder são mais respeitados quer na escola, quer fora dela, embora estejam em nível de escolaridade igual aos demais.

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