Ribamar Tôrres
A proposta de criação deste blog objetiva a abertura de um novo espaço de discussão das políticas públicas de educação e suas relações econômicas, políticas, sociais e culturais. The proposal to create this blog aims to open a new space for discussion of public education policies and their economic, political, social and cultural relations.
quarta-feira, 4 de maio de 2016
SABERES PEDAGÓGICOS CONCORRENTES NA
PRÁTICA DOCENTE: O REAL E O SIMBÓLICO
KNOWLEDGE
EDUCATIONAL COMPETITORS IN TEACHING PRACTICE: THE REAL AND SYMBOLIC
José Ribamar Tôrres Rodrigues
Doutor em Educação pela USP
Mestre em Educação pela PUC/SP
Estágio em Formação de Professores no
IUFM de DOUAI/ França
Estágio em formação de Professores em
CUBA
Ex-Membro do Conselho Estadual de
Educação/PI
Ex-Coordenador do Fórum Estadual de
Educação
Membro do Banco de Avaliadores do
MEC/INEP.
José
Ribamar Tôrres Rodrigues
PhD
in Education from USP
Master
in Education from PUC / SP
Internship
in Teacher Training in IUFM of DOUAI / France
Internship
in Teacher Training in Cuba
Former
member of the State Board of Education / PI
Former
Coordinator of the State Education Forum
Member
of Appraisers Bank MEC / INEP .
Tel (86) 99415-9958
Dentre os saberes pedagógicos que o
professor mobiliza em sala de aula, destacam-se os saberes de gestão
da classe (saberes do quotidiano do trabalho docente), os
saberes de gestão do saber(saberes científicos e da experiência)
e os saberes do saber-ser (saberes subjetivos que
presidem as interações e os significados deles decorrentes). A partir destes,
se desenvolvem um conjunto de novos saberes que tecem novos significados ou os
ressignificam. Dentre estes, o saber temporal dirige o
momento e a intensidade em que determinadas condutas podem ser representadas
(entrar, sair, brincar, estudar). O saber relacional determina
os tipos de vínculos (afetivos, familiares, profissionais, hierárquicos,
conflituosos) que professor e alunos podem estabelecer nos diversos espaços e
momentos do processo de interação e representação da  atividade educativa.
O saber comunicativo estabelece os limites e os tipos
de linguagens e significados que devem ser utilizados nos vários espaços,
momentos e relações interativas do processo educativo. O saber
normativo-disciplinar conserva, ameaça ou estabelece novas
posições nos espaços de interação e representação do processo de ensino  e
aprendizagem. Os saberes tácitos articulam os elos da
rede de relações e representações de professor e alunos através da
cumplicidade, solidariedade, aceitação. E, por fim, o caráter burocrático e
instrumental se solidificam na prática pedagógica por visarem, as
atividades,  alcançar resultados previamente estabelecidos (os objetivos
de ensino).
Among the pedagogical knowledge that the teacher
mobilizes in the classroom, we highlight the
class management knowledge (teaching work everyday
knowledge), the knowledge of the 
management of knowledge (scientific knowledge and
experience) and the know-how of knowledge
 be
(subjective knowledge that govern the interactions and their meanings arising).
From 
these, they develop a set of new knowledge that
weave new meanings or resignify. Among 
these, the temporal dirige know the timing and
intensity that certain behaviors can be 
represented (in, out, play, study). The relational
knowledge determines the types of bonds 
(affective, family, professional, hierarchical,
conflictual) that teachers and students 
can establish the different spaces and moments of
interaction and representation of the 
educational activity process. Knowledge
communication sets the limits and types of languages 
and meanings that should be used in the various
spaces, moments and interactive 
relationships of the educational process. The
normative knowledge-disciplinary saves,
 threat or
establish new positions in the spaces of interaction and representation of
 the teaching
and learning process. Tacit knowledge articulate the links in the network
 of
relationships and teacher representatives and students through complicity,
solidarity, 
acceptance. And finally, bureaucratic and
instrumental character solidifies in pedagogical 
practice as they aimed, activities, achieve results
previously established (the teaching 
objectives).
Parmi les connaissances pédagogiques que
l'enseignant mobilise dans la salle de classe, nous 
mettons en évidence les connaissances de gestion de
classe (enseignement travaux connaissances 
tous les jours), la connaissance de la gestion des
connaissances (connaissances scientifiques et de 
l'expérience) et le savoir-faire de la connaissance
être (connaissance subjective qui régissent les 
interactions et leurs significations découlant). De
ceux-ci, ils développent un ensemble de nouvelles 
connaissances qui tissent de nouvelles
significations ou resignify. Parmi ceux-ci, l'temporaldirige 
connaître le moment et l'intensité que certains
comportements peuvent être représentés (in, out, jeu
, étude). La connaissance relationnelle détermine
les types d'obligations (affective, familiale, 
professionnelle, hiérarchiques, conflictuelles) que
les enseignants et les élèves peuvent établir les 
différents espaces et des moments d'interaction et
de la représentation du processus d'activité 
éducative. la communication des connaissances fixe
les limites et les types de langues et de 
significations qui doivent être utilisés dans les
différents espaces, des moments et des relations 
interactives du processus éducatif. La connaissance
disciplinaire normative sauve, la menace ou à 
établir de nouvelles positions dans les espaces
d'interaction et de représentation des processus 
d'enseignement et d'apprentissage. Les
connaissances tacites articuler les liens dans le réseau de 
relations et de représentants des enseignants et
des étudiants grâce à la complicité, la solidarité, 
l'acceptation. Et enfin, le caractère
bureaucratique et instrumentale se solidifie dans la pratique 
pédagogique car ils visaient, activités, d'obtenir
des résultats précédemment établis (les objectifs 
d'enseignement).
Entre el conocimiento pedagógico que moviliza el
maestro en el aula, podemos destacar los 
conocimientos de gestión de clase (enseñanza de los
conocimientos cotidianos de trabajo), el 
conocimiento de la gestión del conocimiento (el
conocimiento científico y la experiencia) y el 
know-how del conocimiento ser (conocimiento
subjetivo que gobiernan las interacciones y sus 
significados derivados). De estos, se desarrollan
un conjunto de nuevos conocimientos que tejen 
nuevos significados o resignificar. Entre estos, el
temporaldirige sabe el tiempo y la intensidad que 
ciertos comportamientos pueden ser representados
(adentro, afuera, jugar, estudiar). El conocimiento
 relacional
determina los tipos de enlaces (afectivos, familiares, profesionales,
jerárquicas, 
conflictivas) que los profesores y estudiantes
pueden establecer los diferentes espacios y momentos
 de
interacción y la representación del proceso de la actividad educativa.
Conocimiento de 
comunicación establece los límites y tipos de
lenguajes y significados que deben utilizarse en los
 diversos
espacios, momentos y relaciones interactivas del proceso educativo. La
normativa 
conocimiento de disciplinas salva, amenaza o
establecer nuevas posiciones en los espacios de
 interacción
y la representación del proceso de enseñanza aprendizaje. El conocimiento
tácito 
articular los eslabones de la red de relaciones y
representantes de los profesores y estudiantes a
 través de la
complicidad, la solidaridad, la aceptación. Y, por último, el carácter
burocrático e
 instrumental
se solidifica en la práctica pedagógica, ya que dirigen, actividades, lograr
resultados 
previamente establecidos (los objetivos de
enseñanza).
Tra le conoscenze pedagogiche che l'insegnante
mobilita in classe, si segnala la conoscenza 
gestione della classe (insegnare la conoscenza di
tutti i giorni di lavoro), la conoscenza della 
gestione della conoscenza (la conoscenza
scientifica ed esperienza) e il know-how di conoscenze
 essere
(conoscenza soggettiva che governano le interazioni ed i loro significati
derivanti). Da 
questi, si sviluppano una serie di nuove conoscenze
che si intrecciano nuovi significati o resignify. 
Tra questi, il temporaldirige conoscere i tempi e
l'intensità che certi comportamenti possono essere 
rappresentati (in, out, gioco, studio). La
conoscenza relazionale determina i tipi di obbligazioni 
(affettiva, familiare, professionale, gerarchiche,
conflittuali) che gli insegnanti e gli studenti possono 
stabilire i diversi spazi e momenti di interazione
e rappresentazione del processo di attività didattica. 
La conoscenza della comunicazione fissa i limiti e
tipi di linguaggi e significati che devono essere 
utilizzati nei vari spazi, momenti e relazioni
interattive del processo educativo. La normativa sulla 
conoscenza disciplinare salva, minaccia o stabilire
nuove posizioni negli spazi di interazione e di 
rappresentazione del processo di insegnamento e di
apprendimento. La conoscenza tacita articolare i 
link nella rete di relazioni e rappresentanti degli
insegnanti e studenti attraverso la complicità, la
 solidarietà,
l'accettazione. E, infine, il carattere burocratico e strumentale solidifica in
pratica 
pedagogica in quanto volti, attività, raggiungere
risultati stabiliti in precedenza (obiettivi didattici).
Unter den pädagogischen Wissen, dass der Lehrer in
der Klasse mobilisiert, markieren wir die 
Klasse Management-Wissen (Arbeit Alltagswissen
Unterricht), das Wissen über die Verwaltung 
der Kenntnisse (wissenschaftliche Kenntnisse und
Erfahrungen) und das Know-how des Wissens
 sein
(subjektive Wissen, dass die Interaktionen und ihre Bedeutung ergeben regeln).
Daraus 
entwickeln sie eine Reihe von neuen Erkenntnissen,
die neue Bedeutungen oder resignify weben.
 Unter diesen
wissen die temporaldirige den Zeitpunkt und die Intensität, dass
bestimmte 
Verhaltensweisen dargestellt werden können (in,
out, Spiel, Studie). Das Beziehungswissen 
bestimmt die Arten von Anleihen (affektive,
familiären, beruflichen, hierarchisch, konfliktuellen), 
dass Lehrer und Schüler können die verschiedenen
Räume und Momente der Interaktion und 
Darstellung der Bildungstätigkeit Prozess
etablieren. Wissenskommunikation setzt die Grenzen 
und Arten von Sprachen und Bedeutungen, die in den
verschiedenen Räumen, Momente und 
interaktive Beziehungen des Bildungsprozesses
verwendet werden soll. Die normative Wissen 
disziplinären rettet, Bedrohung oder schaffen neue
Positionen in den Räumen der Interaktion 
und Darstellung der Lehr- und Lernprozess. Stilles
Wissen artikulieren die Links im Netz von 
Beziehungen und Lehrervertreter und Studenten durch
Mitschuld, Solidarität, Akzeptanz. Und 
schließlich, bürokratisch und instrumentalen
Charakter verfestigt sich in der pädagogischen Praxis, 
wie sie dem Ziel, Aktivitäten, Ergebnisse erzielen
vorher festgelegten (die Unterrichtsziele).
Среди педагогических знаний, что учитель мобилизует
в классе, мы выделяем знания 
управления классом (учебно-методической работы
повседневного знания), знание управления 
знаниями (научных знаний и опыта) и ноу-хау знаний
быть (субъективное знание, которые 
регулируют взаимодействие и их значения,
возникающие). Из них, они разрабатывают набор 
новых знаний, которые ткут новые значения или
resignify. Среди них temporaldirige знать 
сроки и интенсивность, что определенные формы поведения
могут быть представлены 
(In, Out, играть, учиться). Реляционная знание
определяет типы связей (аффективных, 
семейной, профессиональной, иерархические,
конфликтные), что преподаватели и студенты 
могут установить различные пространства и моменты взаимодействия
и представления 
процесса образовательной деятельности. коммуникация
знаний устанавливает пределы 
и типы языков и смыслов, которые должны быть
использованы в различных пространствах,
 моментов и
интерактивных отношений образовательного процесса. Нормативный знаний 
дисциплинарная спасает, угроза или установить новые
позиции в пространствах 
взаимодействия и представления учебного процесса.
Неявные знания сформулировать
 ссылки в
сети взаимоотношений и представителей учителей и студентов через соучастие,
 солидарность, принятие. И, наконец,
бюрократическая и инструментальный характер 
затвердевает в педагогической практике, как они
были направлены, деятельность,
 достижения
результатов ранее установленных (на цели обучения).
Sredi pedagogicheskikh znaniy, chto uchitel' mobilizuyet v
klasse,
my vydelyayem znaniya 
upravleniya klassom (uchebno-metodicheskoy raboty povsednevnogo znaniya), znaniye upravleniya
 znaniyami (nauchnykh znaniy i opyta) i nou-khau znaniy byt' (sub"yektivnoye znaniye, kotoryye
 reguliruyut vzaimodeystviye i ikh znacheniya, voznikayushchiye). Iz nikh, oni razrabatyvayut nabor
 novykh znaniy, kotoryye tkut novyye znacheniya ili resignify. Sredi
nikh temporaldirige znat' sroki i
 intensivnost', chto opredelennyye formy
povedeniya mogut byt' predstavleny (In, Out, igrat', uchit'sya). Relyatsionnaya
znaniye opredelyayet tipy svyazey (affektivnykh, semeynoy, professional'noy,
iyerarkhicheskiye, konfliktnyye), chto prepodavateli i studenty mogut
ustanovit' razlichnyye prostranstva i momenty vzaimodeystviya i predstavleniya
protsessa obrazovatel'noy deyatel'nosti. kommunikatsiya znaniy ustanavlivayet
predely i tipy yazykov i smyslov, kotoryye dolzhny byt' ispol'zovany v
razlichnykh prostranstvakh, momentov i interaktivnykh otnosheniy
obrazovatel'nogo protsessa. Normativnyy znaniy distsiplinarnaya spasayet,
ugroza ili ustanovit' novyye pozitsii v prostranstvakh vzaimodeystviya i
predstavleniya uchebnogo protsessa. Neyavnyye znaniya sformulirovat' ssylki v
seti vzaimootnosheniy i predstaviteley uchiteley i studentov cherez
souchastiye, solidarnost', prinyatiye. I, nakonets, byurokraticheskaya i
instrumental'nyy kharakter zatverdevayet v pedagogicheskoy praktike, kak oni
byli napravleny, deyatel'nost', dostizheniya rezul'tatov raneye ustanovlennykh
(na tseli obucheniya).
Inseridos ao campo
dos saberes de gestão da classe, registram-se os saberes:
espacial, temporal, relacional, comunicativo, normativo-disciplinar e tácito.
O saber espacial orienta professor e alunos quanto aos espaços físicos,
afetivos e cognitivos) a que podem ocupar ou não e as condutas que eles devem
representar. Este tipo de saber reflete um saber subjacente que é o de
legitimar e conservar posições desiguais, através  da aceitação ao
assumirem posições  pré – determinadas pela ordem hierárquica. Então, como
professor e alunos aprendem a ocupar os espaços escolares? Observou-se que há
regras tácitas gerais e específicas conforme a composição humana e social da
sala de aula. Em qualquer situação, os menores sentam à frente e os maiores
atrás. Nas classes multisseriadas, o professor orienta os espaços de cada série
e nestes, as crianças se organizam, independente de tamanho, por regras
específicas contidas nas relações informais fora da escola. Elas se agrupam por
ordem de prioridade, levando em conta o parentesco, a amizade, o sexo.
A sala de aula
representa mais que um lugar para estudar. É um momento de encontro que rompe o
isolamento do trabalho doméstico e do campo. Neste sentido, os interesses do
cotidiano dos alunos entram em concorrência com  os interesses  do
professor através das pautas curriculares oficiais.
O saber temporal dirige o
momento e a intensidade em que determinadas condutas podem ser representadas (entrar,
sair, brincar, estudar). A distribuição do tempo escolar, especialmente o tempo
de duração de aula  tem relação com a quantidade de assunto a ser dado. Um
assunto de aula pode durar dias, independente do que foi planejado. O diário de
classe acompanha o que está registrado no planejamento pedagógico oficial,
ocultando defasagem em relação ao que acontece em sala de aula. Os depoimentos
abaixo representam momentos e intensidades da prática pedagógica, reguladas
pela distribuição do tempo que, também, ocorre informalmente.
         
"Profa. - Já é três horas. Vambora pro recreio, depois eu passo...se
vocês  quiserem beber, vão beber lá em casa. Podem sair pro recreio.
Depois vocês respondem...”(Suzana, município Demerval Lobão).
                    
Profa. - O que você vai fazer lá fora?
                    
Aluno - Beber, professora!...
         
           Profa. - Meu
filho, não pode sair agora não! Estou fazendo o ditado" (Regina, 
município de União ).
O saber relacional determina os
tipos de vínculos (afetivos, familiares, profissionais, hierárquicos,
conflituosos) que professor e alunos podem estabelecer nos diversos espaços e
momentos do processo de interação e representação da  atividade educativa.
Nesta ótica, registrou-se um fato de vínculo afetivo-emocional entre um aluno
adolescente e a professora. O aluno apresentava mudança de conduta nas aulas
através de silêncio, não execução das tarefas, isolamento. Ao conversar com o
aluno, a professora obteve dele a confissão de que estaria gostando dela.
Diante do fato, a professora ficou assustada sem saber como lidar com tal
situação e resolveu conversar diariamente com o aluno, tentando explicá-lo que
aquilo era natural da idade. Embora não tendo experiência em lidar com esta
situação, ela conseguiu fazer o aluno entender. Segundo a mesma professora, ela
agiu com base em situações semelhantes vividas por ela quando estudante.
O saber
comunicativo estabelece os limites e os tipos de linguagens e significados que
devem ser utilizados nos vários espaços, momentos e relações interativas do
processo educativo. (sabem quando, onde, com quem e de que modo e sobre quais
assuntos devem-se calar ou  expressar-se, através do fato linguístico,
gestual, do vestuário, códigos tácitos e dispositivos psicológicos.
                  
"Profa.  -  Boa tarde!
                  
Alunos - Boa tarde! (Respondem em coro). A bênção tia
Zuleide...           A
bênção  tia Zuleide!
Profa. - Deus te
abençoe! Deus lhe dê saúde”
            
(Zuleide  -  município de Beneditinos).
Profa. – Boa tarde
crianças!
                 
Alunos: - Boa tarde, madrinha!
                
 Profa. – Vamos!... Cada um se levanta e se apresenta para o professor.
Esse é que eu falei que vai passar uns dias conosco"(Conceição, município
de Altos).
                  
Profa. – Agora a tia vai explicar a tarefa de fazer em casa. 3a série
e 2a série, o exercício vão fazer deste assunto, copiar no
caderno deixando os espaços para responder e amanhã eu vejo" (Rosário,
município de José de Freitas).   
A escola representa
para a criança o primeiro contato com os códigos sociais padrão. Os elementos
de leitura, escrita e cálculo são símbolos vagos ou estranhos para ela. Suas
noções de espaço, tempo, tamanho, quantidade e de significados culturais são
absorvidos por critérios informais. A exemplo disso, as noções de medidas
embora diversificadas conforme a região, na zona rural da pesquisa são utilizadas
as medidas braça (ou 2m2) em lugar do
metro;  a linha (ou 800m2); o litro, Quarta,
carga, (ou dois jacás que equivalem de 65 a 75 quilos); prato (ou
dois litros) em lugar do quilograma, ou seja, a ideia de quantidade e distância
são representadas por imagens e não por sinais gráficos, letras ou números.
Isso significa que sua representação de mundo é pictórica, através de ideias do
imaginário cultural.
A 
substituição desses conceitos informais pelos conceitos científicos adotados
pelos currículos das sociedades letradas, através da escola, sem qualquer
relação com a realidade das crianças representa não só uma violência cultural,
mas também psicológica. Isto pode explicar, em grande parte, as dificuldades de
aprendizagem das crianças rurais, quase sempre atribuídas, de modo equivocado,
ao seu desenvolvimento bio-psicológico e às suas condições sócio-econômicas
(pobreza) como fator determinante de uma inteligência inferior.
O saber
normativo-disciplinar conserva, ameaça ou estabelece novas posições nos espaços de
interação e representação do processo de ensino  e aprendizagem.
                    
"Profa. – Vamos parar de conversar mais? Ei, menino, onde é o teu lugar?
Minha gente, cala a boca!...Se não eu não escrevo nada aqui!...Pelo amor de
Deus, cale a boca!..." (profa. Joana, município de Coivaras).
                    
"Profa. – Menino!...Que negócio é esse de entrar e sair? Cadê minha moral?
Ninguém pede mais..." (Rosário, município de José de Freitas).
                   
"Aluno  - Da. Regina, eu vou embora...
                   
Profa. – Tá na hora não!...
                   
Aluno – Eu ainda vou fazer muita coisa!... (quando chegar em casa)
                   
Profa. – Eu também vou...ainda vou a União comprar umas coisas pra casa. A
campainha não bateu!... Eu vou perguntar a tabuada aqui" (Regina,
município de União).
Os saberes tácitos articulam os
elos da rede de relações e representações de professor e alunos através da
cumplicidade, solidariedade, aceitação, humanizando a impessoalidade  das
relações formais, construindo um espaço, saberes e significados paralelos que
os caracterizam como grupo, conforme exemplos a seguir:
                    
"Aluno – Profa., o Erlando não vem hoje porque foi deixar a comida na
roça!
                   
Outro aluno – Profa., o Pereira não vem hoje...ele foi apanhar arroz.
                   
Profa. – Minha filha, é assim mesmo; como é que os pai vai sustentar a família
sem ajuda?" (Zuleide, município de Beneditinos).
    
"Profa. – Hoje eu estou enrolada. Quando tem uma pessoa perto de mim, eu
fico assim, mas só é um dia. Amanhã eu estou como sempre" (Rosário,
município de José de Freitas).
                     
"Prof. – Todo mundo preparado?  Colocar os livros abaixo da carteira.
Coloquem na folha, prova de matemática. É bom ter uma folha para borrão" (Raimundo, 
município de Lagoa Alegre).
Os saberes de
gestão do saber consistem no conjunto de saberes científicos e da experiência,
assumindo um caráter instrumental no processo ensino e aprendizagem,
(preparação de  aulas, planejamento, elaboração de materiais pedagógicos,
de avaliação e escolha de estratégias pedagógicas).  Estes saberes
referem-se aos conteúdos das disciplinas e às atividades que o professor
realiza no processo ensino e aprendizagem: elaboração do planejamento de ensino
e do material pedagógico e da avaliação, escolha de estratégias como o canto,
chamada, fila, desenho, exercícios em classe, dever de casa, ditado, cópia,
recursos subjetivos de motivação dos alunos, saudação de chegada e saída da
classe. Exemplos:
                    
"Profa. – Vocês da 2a série abram os livros de vocês na
página 111...é sobre frase e sinais de pontuação... (Joana – município de
Coivaras).
              
      Profa. – Abram o livro de português, página
150...vamos fazer leitura silenciosa.
                    
Alunos – Madrinha, qual é a página?
                    
Profa. –150...
                    
Profa. – Vamos agora a leitura oral. Raimundo, cadê o caderno?
                    
Aluno – Não trouxe não, professora...
                    
Profa. – Quando vem pra escola tem que trazer material completo..."
(Regina, município de União).  
Os saberes do
saber-ser constituem-se pelos saberes e valores específicos do capital
social que compõem o estilo individual e enriquece o
estilo coletivo, socializado na prática e por ela aceito e legitimado (
aparência, modo de expressar-se, de fazer, de relacionar-se, de participar e de
representar).
               
    "Prof. – Tem uma tecnicazinha que eu sempre
faço...é... na questão...por exemplo...aluno da 4a série
ajudando criança da 3a série...(Marcos, município de
Lagoa do Piauí).
                   
Profa. – Vamos!... Todos de pé. Vamos cantar. Todos!
       
           Todos – Bom
dia...Bom dia... Hoje eu estou tão feliz! Bom dia...Bom dia... (Joana,
município de Coivaras).
                   
Aluno – Maria da Cruz e nós, o que vamos fazer?
                   
Profa. – Calma! Eu sou dividida pra outras séries...só pode ser um de
cada  vez (Maria da cruz,  município de Mons. Gil).
                   
Profa. – Olha, trabalhar aqui na zona rural...é uma questão muito
delicada  trabalhar com educação. É muito delicada porque aqui você tem
de  ser...aliás...o professor tem sempre esse papel de ser duro, né? Então
eu tenho essa questão de ter essa, de trabalhar todos os aspectos. Tem
hora  que sou agente de saúde, tem hora que eu sou o conselheiro e a minha
dificuldade é essa falta de preparação...que o pai, por exemplo, o pai já não
sabe ler nem escrever...não sabe falar dentro da nossa linguagem...a gente tem
de primeiramente tentar traduzir a linguagem...é uma dificuldade enorme e
acompanhada dessa dificuldade da gente ter de dar aulas não somente pra 
criança, mas tem que trabalhar com a própria família” (Marcos, município de
Lagoa do Piauí).
Estes saberes,
inseridos na prática ou decorrentes dela, assumem diversas características
interrelacionadas de caráter plural e interdisciplinar, instrumental,
interativo, representativo, cotidiano, burocrático e estratégico. O espaço
em sala de aula, aparentemente organizado e controlado, esconde uma variedade
de campos interativos e de representações, construídos por professor e alunos.
Este controle aparente revela valores e rituais que sufocam temáticas
decorrentes de relações informais.
No entanto, os
mesmos rituais que controlam e formalizam o trabalho do professor leigo, em
sala de aula, favorecem espaços para momentos de debate: argumentação e
contra-argumentação e que podem suscitar novos saberes, embora nem sempre sejam
percebidos  por professor e alunos.
Os saberes
mobilizados pelos professores leigos no processo de  ensino e aprendizagem
são híbridos no sentido de que exigem diversos tipos de saberes articulados
numa rede de significação individual e social, num contínuo movimento de fusão
e de reorganização de significados para justificar novos saberes. Na prática
pedagógica de sala de aula dos professores observados, captaram-se raros
momentos onde o professor leigo articula conteúdos curriculares com a realidade
dos alunos.
         
"Profa. – Eu vou mostrar um objeto e vocês vão escrever o
nome do   objeto".
Esta atividade é o
que o professor chama de ditado mudo. Enquanto apresenta os
objetos, um a um, para os alunos, estes devem escrever o nome do objeto
mostrado. Mas a professora não fica só nisso e faz perguntas sobre suas
características e utilidades na vida prática. A professora mostra aos alunos 
uma espiga de milho.
                  
"Profa. – Pra que serve o milho?
                  
Alunos – Ração, cuscuz, semente...
                  
A professora mostra a figura de um ônibus.
Profa. – Um ônibus. Para que serve?
                 
Alunos – Pra viajar...meio de transporte..."
Em outra classe
observada, o professor estabelece ralações de conteúdos com a realidade dos
alunos, favorecendo a compreensão entre a dimensão universal e local de
saberes.
                  
"Prof. – Como nós vimos ontem, o meio ambiente é muito importante para
nós, não é?
                 
Alunos em coro – É!.....
                 
Prof. – O que é mais importante?
                 
Alunos – A água, o solo, o ar...
                 
Prof. – Diga a importância do solo.
                 
Aluno – Fazer casa, plantar, fazer poço pra gente  beber água...
                 
Prof.- Também existe as árvores, os animais e muitas vezes a gente maltrata.
Você que faz gaiolas e tem baladeira (estilingue) faz mal a natureza. Se a
gente pensar um pouco tudo que a gente precisa para nossa sobrevivência 
vem da  natureza. E nós fazemos parte da natureza?
                 
Alunos – Faz!....
                 
Prof. – um elemento mineral da natureza que usamos?
                 
Alunos – Água... Sal....
                 
Prof. – Como a gente pode obter o sal?
                 
Aluno – Represando a água do mar.
                 
Prof. – E depois...já vai pra nossa casa?
                 
Aluno – Não. Vai para tratamento para ficar puro.
                 
Prof. – Vai para a indústria. Vocês já viram aquelas pessoas que têm um papo?
                 
Alunos – Já!
                 
Prof. – Pois aquilo é falta de iodo. Ainda temos três assuntos para vocês 
escolherem: “a queimada”, “o lixo” e a “piracema".
Além do caráter
plural, interdisciplinar, os fragmentos acima refletem características do
cotidiano, porque embora discutindo problemas vividos pelos alunos, têm uma
dimensão universal; de ser interativo, porque exige de professor e alunos
saberes comuns e espontâneos que se reorganizam na elaboração coletiva de um
novo conceito e de ser representativo porque os conceitos elaborados passam a
fazer parte da nova visão social dos alunos.
A observação da
prática pedagógica do professor leigo apresenta, ao lado de alguns momentos
reflexivos, uma prática, em geral, caracterizada pelo aspecto burocrático e
instrumental não só pela acumulação de funções de controle e preenchimento de
instrumentos administrativos, mas também porque estabelece tempo para respostas
dos alunos, repete atividades independente da situação concreta de sala de aula
e dos alunos,  pelo ensino dos conteúdos através de regras e não pela
compreensão dos processos que geram tais regras, pela fixação de aprendizagem
pela repetição onde o aluno transcreve respostas do livro  ou exige dele a
memorização de respostas prontas e não as elaboradas pelo processo reflexivo. 
Por fim, o caráter
burocrático e instrumental se solidifica na prática pedagógica por visarem, as
atividades,  alcançar resultados previamente estabelecidos (os objetivos
de ensino) e não respostas possíveis, criadas ou elaboradas a partir da análise
reflexiva dos alunos como se vê no trecho abaixo.
                    
"Olha,  o nosso assunto de hoje é: para a 2a série,
pontos cardeais, para a 3asérie, composição do ar e para a 4a série,
os animais. Para a 4a série eu vou ditar o assunto. Vou dividir
o quadro de giz ao meio e vou passar exercício para a)2a e 3a séries.
                    
1 - Nós podemos descobrir onde estamos pelo:
                        
( )mar; ( ) relógio (  ) sol  (  ) lápis.
                    
2 - Cite o nome dos pontos cardeais -----------  -----------  
--------
                    
3 - Ligue corretamente:
                         
Braço
direito            
Norte
                   
      Braço
esquerdo         Sul
                         
Frente                       
Leste
                         
Costas                      
Oeste
 3a série.
                 
1 - Complete a frase:
                 
O ar é ------------,------------,------------e ------------------.
                 
2 - Marque, usando a palavra sim ou não.
                 
O ar é formado de uma coisa só. Sim (  )    Não 
(  )
                 
As plantas respiram. Sim  (  )     Não 
(  )
                 
3 - Pela fotossíntese as plantas fabricam o ----------"
O aspecto
ideológico permeia toda a prática pedagógica docente nas formas de interação,
representação, conteúdos e, principalmente, nos significados sociais elaborados
nestes processos.
Com referência a
este aspecto, Rockwell, (1986), diz que
                   
"a concepção transmitida aos alunos  em sala de aula reproduz e
reforça a mesma que a escola projeta na população atendida, especialmente nas
zonas rurais, cuja ideia supõe que todos integram uma comunidade unitária
obrigada a apoiar o processo de escolarização: esta concepção esconde processos
econômicos e as diferenças sociais e políticas próprias da sociedade"
(29-39).
A mesma autora
afirma que
       
"os diferentes conteúdos transmitidos no dia-a-dia da escola dificultam a
identificação da ideologia ali reproduzida. Para analisar a ideologia contida
na experiência escolar não bastaria ‘ler’ conteúdos, práticas, estrutura de
poder e a formação social contidas nesta experiência" (p. 29-39).
O caráter
ideológico da prática pedagógica do professor leigo apresenta-se mais evidente
não só na orientação recebida pela escola de reservar um dia para o ensino
religioso, mas porque um só credo é escolhido para servir de conteúdo da
disciplina. A  grande maioria das escolas optam pelo ensino nos moldes do tradicional
catecismo, com perguntas e respostas e orações como oPadre Nosso,
o Creio em Deus Pai. Muito poucas adotam o ensino de religião pelo
estudo da Bíblia. A metodologia utilizada é a mesma das demais  matérias,
à base de leitura, cópia de texto, interpretação de texto e resolução de
exercícios com respostas fechadas  e, geralmente, sem nenhuma reflexão,
relacionando estes conteúdos com a vida do aluno. O objetivo maior do ensino de
religião é a preparação de crianças e jovens para a primeira comunhão. Esta
prática é reforçada pelo fato de que, geralmente, os professores leigos são
também catequistas nas paróquias de suas comunidades. O trecho, a seguir é de
uma aula de religião ministrada por um professor leigo que também é catequista
em sua comunidade.
                     
"Prof. – Hoje é Sexta-feira. É o nosso momento religioso. É uma matéria
que não tem nota como as outras, mas é importante para a nossa vida. Todos se
levantem para rezar o Padre Nosso.
Após rezarem , o
professor continua:
             
Eu dei para vocês estudarem e aprenderem as nossas orações que são o preparo
para vocês fazerem a eucaristia...temos o Creio em Deus Pai...A
Salve Rainha. Levante o braço quem ainda não aprendeu!"
A maioria levanta o
braço.
“Prof. - Eu vou
copiar no quadro para vocês aprenderem.  Agora vocês acompanham em voz
alta comigo".
Em outra escola, a
professora ministra religião, fazendo o ditado de um texto bíblico para os
alunos copiarem no caderno e depois copia no quadro um exercício para os alunos
responderem de acordo com o texto. Transcreve-se,  a seguir, fragmentos do
exercício.
                  
"1- O que devemos fazer para ter uma vida eterna no céu?
                  
2 – Quem é Jesus Cristo?
                  
3 – Qual o mandamento que Jesus deixou para que todos o gravasse em seus
corações?
                  
4 – Dê exemplos que nós (nos)  mostra ser um bom samaritano".
O aspecto
ideológico permeia todos os aspectos do trabalho docente e se manifesta em
vários momentos de suas relações, percepção, representações e de criação e
incorporação de significados. Nestes, enfatizam-se a transmissão de valores que
reforçam a submissão, a acomodação, o sincretismo religioso e a crença
supersticiosa da tradição religiosa local, quando, através de uma metodologia
reflexiva e relacionada com a realidade sócio-política e econômica, poderia
gerar valores de libertação que, certamente, influenciariam nas mudanças das
relações sociais  locais. A posição ideológica, manifestada pelos professores
leigos nos períodos eleitorais , gera comportamentos de rejeição deles por
parte das famílias. Observou-se um caso em que por motivos ideológicos o pai
transferiu o aluno para outra escola, mesmo distante. Esta prática significa
para a família o enfraquecimento da liderança do professor ante a comunidade e
uma ameaça de seu emprego, uma vez que outras famílias, geralmente com vínculos
de amizade, fazem o mesmo em solidariedade.
É evidente que este
aspecto insere-se num campo mais amplo de relações, no qual circulam movimentos
vinculados às várias correntes da pedagogia moderna como o construtivismo e a
tecnologização dos procedimentos pedagógicos, especialmente através da
informática.
Os saberes
pedagógicos assumem, assim uma característica estratégica sobre a qual  se
sustenta a prática  docente em sala de aula. São estratégicos enquanto
justificam práticas pedagógicas como aquela em que o aluno assume funções
docentes, significando que o aluno não é só aprendiz com ralação aos conteúdos
curriculares, mas também com relação à iniciação ao ofício docente; enquanto
servem de  instrumental para  garantirem ao professor um espaço
profissional e manter seu status frente a alunos e comunidade
são também estratégicos porque legitimam o espaço do professor e lhe transfere
conteúdos e valores que permitem a  construção de “esquemas de ação” e
de  significados que vão orientar e legitimar suas  práticas,
profissionais e  sociais.
Referências
BOURDIEU,
Pierre.  Razões práticas sobre a teoria da ação. Trad. Mariza
Corrêa, Campinas, Papirus, 1996.
__________,
Pierre.  O poder simbólico. Trad. Fernando Tomaz. Lisboa,
Difel, 314 p.,1989.
FREIRE,
Paulo. Educação como prática da liberdade. 13o Ed.,
Rio de Janeiro, Paz e Terra, 150p.,1982.
GEERTZ,
Clifford.  Descripción Densa. Hacia una teoría interpretativa de la
cultura. In La interpretación da las culturas. Mexico,
1987. P. 19-40.
ROCKWELL,
Elsie. Reflexiones sobr el  processo  etnográfico. Departamento
de Investigaciones Educativas, Mexico, 57p.,1987.
________.  The interpretation of cultures. New York.
Basic Books. 470p.,1973.
RODRIGUES, J. R. Torres. Magistério leigo rural do Piauí:
concepções e  práticas. Dissertação de Mestrado,
PUC/SP, São Paulo, 268p., 1986.
RODRIGUES, J.
R. Tôrres. Educação além do asfalto.(um estudo sobre as
concepções e práticas do professor leigo rural) Teresina,
Edufpi,    203p.,1999.



0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial