quinta-feira, 23 de julho de 2015

                                                            Educação, Gestão e Planejamento


                                                                        Prof. Ribamar Tôrres
                                                                                         Doutor em Educação pela USP
Estágio profissional  na França e em Cuba
Coordenador do Fórum Estadual de Educação – FEE/PI
Membro do Banco de Avaliadores do Ministério da Educação (BASIS)

O objetivo deste comentário é refletir a dura realidade da educação presa nas teias burocráticas de abordagens e projetos que são mais efeitos semânticos que de intervenção educativa para a qualidade do ensino e da aprendizagem sem quaisquer pretensões academicistas. São reflexões de quem vivenciou ao longo dos anos estes discursos inócuos e sem quaisquer resultados.
Já ficou cansativo se falar, escrever e pensar educação. São as mesmas coisas atrasadas de quase cinquenta anos e ainda alguns acham que estão inovando. E os profissionais da educação, especialmente os professores e os técnicos continuam como instrumentos importantes para fabricação de marketing de personalidades políticas que se promovem e se alternam no poder. Os professores e técnicos continuamos executando o que os outros que muitas vezes nem são da área pensam educação fora de qualquer referência científica. Continuamos ventrílogos dos  que mandam.
Os recursos da educação servem para todo propósito, menos para se fazer uma educação de qualidade. Os recursos financeiros da educação são direcionados para profissionais de diversas áreas em nome de uma educação que não avança. Quem ganha o dinheiro da educação não são os profissionais que nela atuam e passam maior parte de suas vidas a ela se dedicando.
A gestão continua sendo encarada como uma atividade de fiscalização onde as questões formais e burocráticas matam a criatividade dos profissionais que conhecem a realidade sabe como fazer, mas não podem agir sob pena de serem afastados, sofrerem assédio moral e discriminados. Estes nunca servem aos propósitos importados como novidades quando já não se usa mais em quaisquer lugares. São inovações envelhecidas e fora da realidade da identidade, da cultura e da prática educacional.
Isto revela a ausência de planejamento a partir de uma base da prática profissional. De repente, todos são tratados como incompetentes e lá vem iluminados que nem ao menos conhecem a história local com modelos justapostos às rotinas culturais e científicas e procedimentos que não se ajustam à dinâmica de cada sistema e de cada escola.
São assessorias que chegam a pensar por nós, achando que ainda se faz planejamento, apenas, com dados estatísticos, descontextualizados, monoculturais, sem significados e desrespeitando a história de profissionais que a duras penas constroem uma realidade que não é valorizada porque é mais fácil mostrar os números que não representam os avanços coletivos obscurecidos, substituídos por ações isoladas e desarticuladas do processo de construção coletiva.
Intercâmbios são importantes e assessorias também, mas não se pode substituir o processo existente por projetos de marketing que mais servem para alimentar a comunicação oficial que a aprendizagem dos alunos.
Tem muita invenção que parece ser aquele processo de insights de alguns que desconhecem e negam a história local e a identidade cultural. É um grande desrespeito à cultura estes lampejos de cérebros iluminados que parecem achar patologias nas práticas educativas e, por conseguinte implantar verticalmente antídotos como se fossem vacinas. São abordagens totalmente positivistas onde o divergente é o mal e uma única ideia prevalece como universal e correta.
Vejam a que ponto chegamos! Terceirizar o pensamento pedagógico e rebaixar a mão de obra pensante para somente executar ações que nem mesmo sabem o que significam. Estamos tentando fazer o impossível: homogeneizar o processo de construção do conhecimento e profanar o espaço de sala de aula com profissionais robotizados que obedecem e executam ordens para produção de estatísticas educacionais que nada representam em relação à realidade dos vários espaços de produção coletiva do saber. Assim a sala de aula sob monitoramento, o professor se submete a um processo que transforma a sala de aula em uma cela de aula.
Essa é a educação que queremos? Para que vão servir os Planos de Educação fruto da mobilização da sociedade civil?
Os profissionais da educação do Piauí precisamos nos impor enquanto seres pensantes e atuantes. Como conhecedores e produtores de saberes. Como gestores do processo educativo que precisam ser ouvidos e serem parte das decisões educacionais. Basta! Chega! Vamos fazer educação!

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