DEMOCRACIA E LEGITIMIDADE DO PODER POLÍTICO NA
SOCIEDADE BRASILEIRA EM CRISE
DEMOCRACY AND LEGITIMACY OF THE POLITICAL POWER IN BRAZILIAN SOCIETY IN CRISIS
José
Ribamar Tôrres Rodrigues
Doutor
em Educação pela USP
Mestre
em Educação pela PUC/SP
Estágio
em Formação de Professores no IUFM de DOUAI/ França
Estágio
em formação de Professores em CUBA
Ex-Membro
do Conselho Estadual de Educação/PI
Coordenador
do Fórum Estadual de Educação
Membro
do Banco de Avaliadores do MEC/INEP
José Ribamar Rodrigues Tôrres
PhD in Education from USP
Master in Education from PUC / SP
Internship in Teacher Training in the
IUFM of DOUAI / France
Stage for Teacher training in Cuba
Former member of the State Board of
Education / PI
Coordinator of the State Education Forum
Member of Appraisers Bank MEC / INEP
RESUMO
Este artigo foi
produzido a partir das aulas ministradas pela professora doutora Maria Victória
de Mesquita Benevides na disciplina Sociologia da Educação VIII – Estado,
Democracia e Educação no Brasil no Curso de Doutorado em Educação da
Universidade de São Paulo – USP em 1997. É desconfortante perceber que as discussões
teóricas e da realidade, travadas por autores clássicos e contemporâneos sobre
o tema denunciam o recrudecimento dos problemas e comprovam sua atualidade. Trata-se
de uma discussão sobre a legitimidade do poder em uma sociedade brasileira em
crise ético-moral, política e econômica responsável por uma das maiores crises
sociais e de esperança do país.
Palavras-Chave: Democracia. Legitimidade.
Poder Político. Sociedade
Brasileira. Crise.
ABSTRACT
This article was produced from the classes taught by Maria Victória de Mesquita Benevides in the discipline Sociology of Education VIII - State, Democracy and Education in Brazil in the Doctoral Course in Education of the University of São Paulo - USP in 1997. It is discomforting to realize that the theoretical discussions and the reality, clashed by classic and contemporary authors on the subject denounce the intensification of the problems and prove their actuality. It is a discussion about the legitimacy of power in Brazilian society in an ethical-moral, political and economic crisis that is responsible for one of the greatest social and hopeful crises in the country.
Keywords: Democracy. Legitimacy. Political power. Brazilian society. Crisis.
RESUMÈ
Cet article a été produit à partir de la leçon enseignée par Maria Victoria Benevides Mosquée dans la discipline de la sociologie VIII Education - Etat, la démocratie et l'éducation dans le programme de doctorat Brésil en éducation de l'Université de São Paulo - USP en 1997. Il est discomforting de réaliser que les discussions et la réalité théoriques, se sont battus par des auteurs classiques et contemporains sur les dénoncer sujet des problèmes de recrudecimento et prouver sa pertinence. Ceci est une discussion sur la légitimité du pouvoir dans ma société brésilienne sur la crise éthique et morale, économique et politique responsable de l'un des plus grands social et espérons que la crise du pays.
Mots-clés: Démocratie.
Légitimité. pouvoir politique. société
brésilienne. Crise.
RESUMEN
Este artículo fue producido a partir de las clases impartidas por María Victória de Mezquita Benevides en la disciplina Sociología de la Educación VIII - Estado, Democracia y Educación en Brasil en el Curso de Doctorado en Educación de la Universidad de São Paulo - USP
En 1997. Es desconcertante percibir que las discusiones teóricas y de la realidad, trabadas por autores clásicos y contemporáneos sobre el tema denuncian el recrudecimiento de los problemas y comprueban su actualidad. Se trata de una discusión sobre la legitimidad del poder en una sociedad brasileña en crisis ético-moral, política y económica responsable de una de las mayores crisis sociales y de esperanza del país.
Palabras clave: Democracia.
Legitimidad. Poder político. Sociedad brasileña. Crisis.
SOMMARIO
Questo articolo è stato prodotto dalla lezione insegnata da Maria Victoria Benevides Moschea nella disciplina della sociologia VIII Istruzione - Stato, Democrazia e educazione in Brasile Dottorato in Formazione dell'Università di São Paulo - USP
nel 1997. E 'sconfortante rendersi conto che le discussioni teoriche e realtà, combattute da autori classici e contemporanei sui problemi recrudecimento soggetto denunciare e dimostrare la sua rilevanza. Questa è la discussione della legittimità del potere nella società brasiliana ma sulla crisi etica e morale, economica e politica responsabile di uno dei più grandi sociale e la speranza di crisi del paese.
Parole chiave: Democrazia.
Legittimità. Potere politico. Società brasiliana. Crisi.
Zusammenfassung
Staat, Demokratie und Bildung in Brasilien Promotion im Fach Erziehungswissenschaft der Universität von São Paulo - - USP 1997. Dieser Artikel wurde aus der von Maria Victoria Benevides Moschee in Soziologie Disziplin VIII Bildung gelehrt Lektion hergestellt. Es ist unbehaglich, dass die theoretischen Diskussionen und Realität zu verwirklichen, von klassischen und zeitgenössischen Autoren zu den Themen denounce recrudecimento Problemen bekämpft und ihre Relevanz unter Beweis stellen. Dies ist eine Diskussion über die Legitimität der Macht in ma brasilianischen Gesellschaft aus ethischen und moralischen Krise, wirtschaftliche und politische Verantwortung für eine der größten sozialen und hoffen, dass die Krise des Landes.
Stichwort: Demokratie.
Legitimierung. Die politische Macht. Die brasilianische Gesellschaft. Krise.
РЕЗЮМЕ
Данная статья была подготовлена из классов преподаются
профессор доктор Марией Мечеть Виктории Benevides в социологии дисциплина VIII
образования - государства, демократии и образовании в программе Бразилии
докторантуры в области образования в Университете Сан-Паулу - USP в 1997 году. Это
неутешительный понимать, что теоретические дискуссии и реальность, воевавших на
классических и современных авторов по проблемам recrudecimento субъект
разоблачать и доказать свою значимость. Это обсуждение власти легитимности в бразильском
обществе по этическому и моральному кризису, экономический и политический,
ответственному за один из самых больших социальных и надеюсь, что кризис в
стране.
Ключевые слова: демократия. Законность. Политическая
власть. Бразильское общество. Кризис.
REZYUME
Dannaya stat'ya byla podgotovlena iz klassov prepodayutsya professor doktor Mariyey Mechet' Viktorii Benevides v sotsiologii distsiplina VIII obrazovaniya - gosudarstva, demokratii i obrazovanii v programme Brazilii doktorantury v oblasti obrazovaniya v Universitete San-Paulu - USP v 1997 godu. Eto neuteshitel'nyy ponimat', chto teoreticheskiye diskussii i real'nost', voyevavshikh na klassicheskikh i sovremennykh avtorov po problemam recrudecimento sub"yekt razoblachat' i dokazat' svoyu znachimost'. Eto obsuzhdeniye vlasti legitimnosti v brazil'skom obshchestve po eticheskomu i moral'nomu krizisu, ekonomicheskiy i politicheskiy, otvetstvennomu za odin iz samykh bol'shikh sotsial'nykh i nadeyus', chto krizis v strane.
Klyuchevyye slova: demokratiya. Zakonnost'. Politicheskaya vlast'. Brazil'skoye obshchestvo. Krizis.
Em
primeiro lugar, é preciso entender que
tipo de democracia vivemos no Brasil. Suas raízes históricas, os grupos
minoritários de interesse que, secularmente, pilham a nação e se apoderam da
maioria de todos os bens produzidos pela maioria marginalizada, sufocada e
enganada a cada pleito eleitoral. O que
eles consideram mudança é pura acomodação de forças que se agrupam e se revezam
no poder para manter os privilégios e condenar os demais que assistem ao
espetáculo como simples excluídos que legitimam e dão força aos seus algozes,
travestidos de “salvadores da pátria”.
Não é suficiente dizer que o povo
elegeu e com isso querer mostrar legitimidade, mas é preciso refletir que o
povo elegeu, mas em que condições? Uma população de maioria manipulada pelo
novo populismo que na realidade não tem nada de novo porque se fundamenta em
velhas práticas do assistencialismo em contraposição ao direito apregoado na
Carta Magna. Uma população à deriva pela
falta de acesso aos elementos básicos de construção da cidadania. Uma população de maioria desescolarizada e
impedida de exercitar as faculdades de análise, julgamento e escolha. Uma
população de maioria trabalhadora refém do poder econômico e político. Uma população de maioria excluída do
trabalho, da saúde, da educação, da segurança, das condições mínimas de
sobrevivência e do exercício do arbítrio da liberdade de escolha e de qualidade
de vida.
Como os políticos vêem o eleitor:
How politicians see the voter:
Voter
before Election
Eleitor antes da Eleição
Eleitor depoos da Eleição
Elector after the election
Fonte: Miro Stefanovic. Beska - Sérvia. 01/07/2015.
Em “O Futuro
da democracia” Norberto Bobbio (1986, p. 17-40; 151-171) propõe uma definição
mínima de democracia contraposta às demais formas de governo autocrático. Para
ele, as regras democráticas definem quem está autorizado a tomar decisões e com
quais procedimentos cujo ponto de partida reside na quantidade dos que tem
direito ao voto e sob determinadas condições. Para Bobbio, não basta um elevado
número de cidadãos que tem direito de participar direta ou indiretamente das
decisões coletivas. Não bastam regras de legitimação como critérios de maioria
ou da unanimidade. È preciso que os que vão decidir sejam colocados diante de
alternativas reais e lhes sejam garantidas as condições de escolher uma ou
outra para superação do discurso e prática e entre o prometido e o realizado e
fazer valer a vontade coletiva de modo a transformar súditos em cidadãos.
A
democracia representativa defende a concepção de que a democracia tem uma
característica coletiva onde existem grupos e não indivíduos que no dizer de
Bobbio passa de centrípeta para entrífuga, policêntrica e poliárquica pela
distribuição do poder. O autor alerta que a representação política não se
confunde com representação de interesses, a primeira (representação política)
representa a nação e a segunda, (representação de interesses) representa os
eleitores e, em decorrência disto, há o favorecimento da persistência de
oligarquias. De outro lado, Joseph
Schumpeter (2003) considera que governo democrático não é a ausência de
elites, mas a presença de muitas elites que ao nosso entender é a
democratização para formação de várias
elites, isto é, a superação das desigualdades e o acesso de todos às instâncias de decisão.
Nesse sentido cabe falar em sociedade regulada (sociedade sem governo)
defendida por Gramsci, (1975) isto é, sociedade sem divisão de classes o que
teria o mesmo sentido que Karl Marx dá a evolução da trilogia
capitalismo-socialismo –comunismo, sendo este último à utopia da sociedade
perfeita que na visão mais radical anarquista e libertária de Mikhail Alexandrovich Bakunin (1995) evoluiria diretamente
do capitalismo sem necessidade de uma transição socialista. Para Bobbio, sem o
direito de controlar o poder não há garantia de respeito aos direitos-
liberdade.
Eleição livre?
Free election?
Fonte:Seyedbehzod Ghafarizodeh. Montreal. 01/07/2015.
A concepção de elite posta neste
artigo não se confunde com o poder econômico. Elite, para o autor desta
reflexão, se compõe várias frações de classes quais sejam: elites econômicas,
elites religiosas, elites políticas, elites estudantis, elites sindicais,
elites da comunicação, elites de categorias profissionais, elites artísticas,
dentre outras que formam uma rede de conformação social e agem como mecanismo
de controle de grupos sociais de cujas organizações participam ou com cujas
organizações que se identificam. Esse processo de relações não só definem
campos de cooptação como neutralizam os possíveis movimentos populares de
libertação rumo à autodeterminação dos cidadãos.
Não há como
defender o máximo controle do poder pelos cidadãos, sem que se defenda, também,
o máximo de controle dos cidadãos por parte do poder. Para isso, a condição é o
cidadão educado, promessa não cumprida no dizer de Bobbio e que significa
educação para a cidadania. Nesse sentido, Stuart Mill acredita que a educação
do cidadão tem como ponto de origem o próprio exercício da prática democrática.,
colocando a participação eleitoral como grande valor educativo.
No
Brasil, no entanto, a quebra das regras do jogo em benefícios de grupos, torna
esse processo eleitoral deseducativo e pernicioso ao processo consciente de
análise, julgamento e escolha de seus representantes onde há um verdadeiro “conluio”
cujo voto é moeda de troca em função de interesses individuais ou de grupos.
Selfie de Político
Selfie of Politician
Fonte: Carlos Augusto R. Nascimento.Belém do Pará. 01/07/2015
Bobbio
considera que a passagem de uma economia familiar para uma economia de mercado
e dessa para uma economia regulada, planificada, protegida requer competências técnicas
que para Saint Simon favoreceria a substituição de governos legisladores por cientistas,
aumentando o aparato burocrático organizado do vértice para a base quando o
poder político na democracia se organiza da base para o vértice. Nesse sentido, questiona o autor que se a
democracia é um conjunto de regras, procedimento como pretender cidadãos
ativos?
O
mesmo autor estabelece a diferença entre “governo das leis e governo dos
homens”, considerando-se não somente quais e quantos são os governantes, mas o
seu modo de governar. Neste sentido diz Platão: [...] chamei aqui servidores
das leis aqueles que ordinariamente são chamados de governantes [...], todavia,
aos governantes é necessária, também, a lei [...] que não pode estar submetido
a paixões. Ora, a lei não tem paixões que ao contrário está em toda alma
humana” (Política, 1286 a),
Bobbio
arremata que o governo dos homens vincula-se à figura do soberano-pai,
soberano-patrão que aproxima de concepções paternalistas ou patriarcalistas
onde o Estado é considerado família cujos vínculos que os unem ao grupo não são
jurídicos, mas éticos que para Kant governo fundado no princípio da
benevolência, do paternalismo é o pior despotismo.
Refletindo-se
sobre estas ideias destes autores, evidenciam-se contrastes e avanços onde o
ideário democrático não foi atingido, bem como suas transformações não
realizadas no Estado moderno onde se destaca o aparato técnico e as questões da
cidadania e dos valores.
Por
outro lado, levantam-se posições a favor e contra o governo fundado nas leis e
o fundado nas vontades do soberano. A
representação política e suas relações com interesses gerais e particulares
esbarra na pergunta feita por Bobbio: “existe algum critério geral capaz de
permitir a distinção entre interesses particulares e interesses de grupo?”.
Supomos
que não há um ou outro em estado puro embora possamos identificar tendências de
representação de interesses nos chamados ACORDOS, Parece não ser apropriado
dizer que há somente representação de interesses, mesmo porque tais acordos
submetem-se a regras gerais sob determinadas condições dos sistemas econômico e
social. Portanto, envolve interesses mais amplos que ao mesmo tempo satisfaz
interesses de grupo particular. Presumo que os acordos embora assumam muitas
vezes posições corporativas, asseguram uma série de condições que visam
garantir a “estabilidade social”, vinculada á sobrevivência de grupos em seus
interesses mais imediatos. Creio que o autor tangenciou a questão dos “critérios
gerais”. Ele considera os acordos como expressão “típica de representação de
interesses”, no entanto considera diferente os acordo em nível sindical.
Os
sindicatos (hoje) no Brasil representam concepções diferentes da luta do
trabalhador que vai de posições extremas à cooperação e da força à negociação,
da contestação à busca de resultados, do corporativismo à diluição de lutas no
movimento geral. Uma prova disso, é que sindicatos tem elegido diversos militantes
para o parlamento e nem por isso a luta sindical parece avançar em suas divergências.
A
expansão do processo democrático não se configura pelo lugar onde se exerce o
direito de escolha, do voto, mas como exerce esse direito de escolha, ou seja, a
qualidade do exercício desse direito e como isto pode evitar processos crônicos
de cooptação e manipulação (populismo).
O
fenômeno da renúncia do próprio direito pelo cidadão parece uma afirmação
autoritária uma vez que se admite que só o uso do direito de votar (sentido
positivo) favoreceria uma educação para a cidadania, eliminando-se a
possibilidade de escolha o que seria antidemocrático. Presumo que “a renúncia
do próprio direito” não configura renuncia, visto que junto ao direito do uso
está o direito do não uso e o não uso é em si uma opção de uso. De outro lado,
renúncia parece não se referir, apenas, a abstenção, mas a outras formas de
expressão de vontade como é o caso do voto mulo, em branco ou “clientelar!.
Este último, apesar de caracterizar o uso do próprio direito, não garante um ato
livre, consciente pois do contrário estaríamos colocando no rol dos
considerados dos votos de opinião. Mal comparando o voto “clientelar” embora
evidencie a condição de troca, pode revelar uma outra faceta: estratégia do
eleitor de mesmo por alguns momentos fazer o político comprometer-se com seus
interesses mesmo que particulares o que não justifica o erro.
A
legitimidade do poder não implica só na quantidade de voto e mesmo a quantidade
de voto deve ser parâmetro de legitimidade quando a lisura do pleito seja
comprovada com a ausência de tráfico de influência, compra de voto e troca de
favores e ninguém tem coragem de coibir.
A
legitimidade não é uma imposição legal, mas antes de tudo um processo
fiduciário, resultante de um contrato branco entre o cidadão e seus
representantes. Este processo se funda
num conjunto de condições socioeconômicas e ético-morais que presidem as
relações sociais e políticas legalmente estabelecidas.
Além
disso, dentre as várias condições imagináveis para uma legitimidade do poder de
representação do cidadão, há uma condição básica para que isso se realize, qual
seja uma sociedade onde os cidadãos tenham condições mínimas de compreensão e
domínio de processos e de código sociais para construir uma capacidade de
análise, de julgamento e de escolha o que somente é possível pelo cidadão
educado. Não se trata de nivelamento cultural dos cidadãos, mas de
desnivelamento, uma vez que uma sociedade deve ser identificada menos pelas
semelhanças e mais pelas diferenças. Neste caso, as diferenças não devem ser
parâmetros para classificação dos cidadãos como ocorre em uma sociedade
capitalista, mas as diferenças como parâmetro de garantia de direitos-liberdade
(civis e políticos) e de direitos-crédito (direitos sociais) como características
de uma sociedade democrática.
O
processo do distanciamento dos cidadãos de sua representação política, no
Brasil, é um processo que vem se aprofundando vertiginosamente em consequência
do não comprometimento dessa representação não só dos ideários
político-democráticos, mas também, dos interesses da sociedade que influíram em
sua escolha como representante popular.
Diante
disso, o poder recorre à força da lei para garantir uma aparente legitimidade
que não tem o aval popular. Nesse caso temos uma autoridade sustentada pela
força de lei e não pela autodeterminação dos cidadãos.
Na
verdade, a história brasileira de legitimação do poder menos pela força popular
e mais pelo processo conciliatório de grupos de interesse que se organizam e se
reorganizam em função de manutenção de privilégios que se distribuem
intra-grupos e repassados de geração em geração dos mesmos grupos, excluindo a
maioria da população dos benefícios sociais gerados por todos para alimentar,
apenas, uma parte privilegiada.
Com
isso, é fácil concluir que a sociedade brasileira adota um discurso legal
democrático e republicano, mas uma prática totalmente fundada em processos
monárquicos de caráter autoritário onde os privilégios se distribuem a grupos
dominantes que se consideram acima da lei e se perpetuam em razão da apatia do
cidadão (súditos) que por sua vez se dividem entre os que lutam para construir
uma contra-força e os que se diluem na periferia do poder, legitimando sua
força em troca de migalhas que caem dos privilegiados.
A
Sociedade brasileira precisa de uma revolução de educação, de organização sem
cooptação, de consciência dos interesses coletivos para se neutralizar a ação
de grupos de interesse que se dizendo agir em nome da democracia e do interesse
coletivo obtêm a adesão de frações de classes para consolidar privilégios. A
exemplo disso, o congresso nacional protagonizou nesta semana a discussão sobre
a renegociação das dívidas dos produtores rurais, colocando na faixada dessa
discussão o benefício para o homem do campo, mas por trás de tudo para
beneficiar os grandes produtores, inclusive o relator da matéria e grande parte
dos políticos que tem latifúndios e se dizem agropecuaristas.
Uma
sociedade altamente desigual como a brasileira, à desvinculação do cidadão de
um ideário de classe, de um ideário político e de sua representação também
totalmente desvinculada dos interesses da sociedade jamais poderá construir uma
sociedade que valorize as diferenças que se constituem a base para uma
construção democrática.
Desigualdade
e diferenças não se confundem. Enquanto a desigualdade é a mãe da exclusão e da
negação dos direitos, as diferenças são indispensáveis para a construção do
acesso aos processos sociais, aos direitos e à legitimação da democracia e da
construção da cidadania.
Que
legitimidade tem os mandatos políticos no Brasil? Nenhum! Porque a grande
maioria é decorrente de processos ilegítimos e, portanto, são nulos de direito.
Mas tudo isso não é responsabilidade só dos políticos, é de todos nós que com o
nosso voto legitimamos esse desastre histórico que não se refere somente aos
atuais governantes. São 500 anos de poucas elites se locupletando e massacrando
quem trabalha e quem produz.
O
Brasil precisa de uma revolução popular e não populista onde os cidadãos tomem
as rédeas do país pela consciência do exercício da cidadania e pelo voto e
aprendam a decidir em função de seus interesses coletivos. Nesse aspecto, somos
defensores da instituição do mecanismo do RECALL onde após determinado tempo no
poder o povo possa ser chamado a opinar pela continuidade ou não de um governo
através de um referendum popular.
Referências
BAKUNIN.
Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: hucitec, 1995.
BOBBIO,
Norberto. O futuro da democracia (uma defesa das regras do jogo). Trad.
Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1986.
CANIVEZ,
Patrice. Educar o cidadão. 2. ed. Campinas: Papirus, 1998.
GRAMSCI, A. Quaderni
del carcere. In: GERRATANA, V. (Org.). Ed. Crítica. 4v. Turim:
Einaudi, 1975.
SCHUMPETER,
Joseph A. Capitalism, Socialism and Democracy, 2003.