O Planejamento Estratégico X Planejamento da Educação
Prof. Ribamar Tôrres
Doutor em Educação pela USP
Estágio profissional na França e em Cuba
Coordenador do Fórum Estadual de Educação – FEE/PI
Membro do Banco de Avaliadores do Ministério da Educação (BASIS)
A abordagem do planejamento estratégico, nos últimos cinquenta anos, motivou teóricos e técnicos organizacionais a pensar o encaminhamento dos prolemas de empresas públicas e privadas quanto aos processos de produtividade e do lucro ou resultados, eficiência e eficácia da aplicação de métodos com vistas a participarem da campo da competitividade e de se manterem vivas no mundo do trabalho.
Várias são as visões que desenvolveram este procedimento tentando a melhoria do resultado das organizações. No entanto, vários são os aspectos que povoam este espaço de planejamento estratégico nas empresas. Parte destes complicadores e, talvez, os mais importantes não são possíveis de serem confinados na racionalidade de um planejamento com base, via de regra, em análise de dados estatísticos sem que se atente para a cultura organizacional e o contexto em que a mesma se insere.
A análise de uma organização incorporando-se o prisma de sua identidade, visando definir suas diretrizes que se ajustem ao controle realizado por instrumentos anacrônicos à sua dinâmica, compromete os resultados do que poderia ser um planejamento estratégico.
A gestão estratégica na administração pública deve responder a urgência dos direitos-crédito que o cidadão demanda junto ao Estado Nacional e regional. Assim, o planejamento estratégico deve ter uma dinâmica proporcional ao avanço das relações sociais e para isso, não pode negligenciar a gestão de pessoas que são operadores desses procedimentos, dando-lhe um incremento tanto qualitativo quanto quantitativo. A política de pessoal torna-se importante quando o planejamento estratégico previne as incertezas de novos horizontes que se desenham no cenário econômico e social. Somente isso justifica o planejamento estratégico.
No serviço público, o planejamento estratégico esbarra na vaidade e interesses de gestores, de políticos e de uma malha de técnicos cooptados pela esperança de projeção econômica e social e, além disso, a falta de prevalência de critérios técnicos sobre os critérios assistêncialistas, utilizados para manter espaços de poder, corroem qualquer tentativa de eficiência e de respostas às demandas sociais.
Ao longo dos anos, a Secretaria de Educação do Piauí realizou diversas tentativas de implantação de uma administração científica, através do Planejamento Estratégico. No entanto, os documentos elaborados por técnicos, sempre de outros estados e de organizações famosas, produziram belas peças de análise contidas nos relatórios, cuja receitas excluem a participação de competentes técnicos locais que dominam este processo, mas sem espaços para decisão de execução e avaliação.
Os documentos produzidos, desconectados dos significados da cultura organizacional e social, embora tecnicamente muito bons e esteticamente aprazíveis, contendo missão,visão de futuro, valores, objetivos, metas e estratégias, não produziram quaisquer resultados.
Na realidade, só o planejamento estratégico nada significa sem o envolvimento dos técnicos locais que com base nas estratégias façam o detalhamento das competências para a execução do plano e aloquem as condições técnicas e materiais para alcançar os objetivos propostos.
É por demais desnecessário falar sobre os vultosos valores financeiros mobilizados para produzir estes documentos com assessorias que agora se chamam parcerias. Tais ações que excluem os técnicos locais e os tornam simples fornecedores de informações ou executores de decisões das quais não participaram, determinam a triste realidade de frustração de esperança de resultados.
Cabe observar que um planejamento estratégico, em si, é letra morta se não foi construído a partir da cultura organizacional. Ele simplesmente não existe sem a triangulação plano X contexto local e organizacional X pessoal técnico. Isso é imprescindível. Não se pode admitir que a concepção de um plano estratégico permaneça anacrônico à realidade do dia a dia da Educação.
É preciso compreender que na educação, apenas, parte dessa realidade pode ser confinada em um planejamento, mas o planejamento estratégico deve conter mecanismos que permitam o constante alinhamento deste com a dinâmica da realidade educacional e social. O planejamento estratégico só existe quando executado, misturado à realidade para se testar o concebido na realidade concreta. Nesse aspecto, o planejamento estratégico começa a ser construído e é a partir dai que se pode vislumbrar resultados.
A SEDUC Piauí precisa valorizar seus técnicos estruturantes, os que pensam e executam e pensam para poder avançar na visão atrasada de planejamento que domina sua prática. O planejamento da SEDUC ainda não existe e quando há são registros de ações pontuais dentro da visão tradicional focada no controle.
O planejamento estratégico considera as organizações como organismos sociais, enfatizando-se o compromisso com a performance e não o controle da performance. As estratégias emergem do processo de execução e da identidade organizacional constantemente revistas pelo processo permanente de avaliação como parte concomitante do processo de execução e não com partes isoladas de momentos desconectados .
O planejamento estratégico integra todos os momentos sincronicamente, permeando todos os mecanismos de execução na direção de parte - todo - parte.
O Plano Estadual de Educação é um exemplo de como se construir um planejamento estratégico, mas ele, em si, nada produzirá se não se garantir permanente alinhamento com a realidade educacional e social e a autonomia de técnicos estruturantes que, via de regra, são determinados na vala comum da simples execução.
A Educação do Piauí poderá avançar se se adotar uma política de valorização dos técnicos locais que nada tem a dever os competentes técnicos de outros estados. Não somos contra a parceria, somos contra o processo de colonização interna e a ditadura técnica de profissionais que mal conhecem a realidade do Piauí a não ser pelas estatísticas.
A educação do Piauí não pode ser gerida pela influência de técnicos que embora competentes não convivem com a realidade educacional do Estado.
Que é dos nossos competentes técnicos que apesar de preparados ficam à margem das decisões político-educacionais?
A diretriz nacional exalta a participação e o regime de colaboração. Isso é salutar, mas se há como investir em técnicos de fora por que não investir nos nossos melhores técnicos?
Espera-se que a decisão fruto da participação popular seja respeitada como lei consuetudinária.